quinta-feira, fevereiro 22, 2007

O SORRISO DA LUA

Hoje a Lua sorriu pra mim
Depois de tanto tempo me ignorando
Só me olhando, me escutando
Sempre imóvel, inerte, silenciosa

Ela abriu um sorriso lindo, imenso
Era dourado e brilhante e encantador
Podia quase que sentir o seu perfume
Ouvir o pulsar em suas crateras

Daí um clarão que de início pareceu-me cometa
Mas o rabo não era cauda, nem mesmo coisa parecida
E do dragão de Jorge também não havia nem sombra
Só mesmo o cavalo se via por lá, a saltar

Quando desisti de olhar pra cima veio
Um anjo loiro que chegou a galope
Desceu como uma tempestado sem freio
Pegando-me de surpresa, em cheio, no peito

Foi só o tempo de fechar os olhos e sentir o impacto
O estrago estava feito, o buraco aberto
E o anjo entrou, vasculhou, logo dominou
Não deixou um espaço sequer intacto, livre

Encheu-me com suas luz e vida
Reencantou minha paixão hibernada
Amarrou seu burrinho dentro de mim
Parece que não quer mais devolvê-lo a Jorge

E a Lua, tão distante, presente e bela
Sem Jorge, sem cavalo, sem dragão, só crateras
Ficou lá, inalcançável como eu, satisfeita
Somente olhando e sorrrindo pra mim, só pra mim...

Luiz Eduardo Bimbato
Milão/MI - Itália
Fevereiro 2007

terça-feira, setembro 12, 2006

DISTÂNCIA

Que distância é essa que não nos distancia?
Que faz o tempo andar devagar e venta, venta
Deixando pasmos os tambores interiores
Que, sem escolha, solam sem platéia, e ecoam

E me permite desejar não só o principal
Mas todo o acessório, ainda que sem laços
Talvez pelo simples querer o impossível
Talvez pelo simples amar o que deve ser amado

Tanto, sempre, incondicional e abstrato
Pelo ímpeto de algo que nunca foi
Que nunca deixou de ser e será mesmo assim
Por mais que a doçura baste e ceda

Os mesmo olhos, pérolas, cobiças
Aquelas anteriores conversas e confissões
Vindos de um momento não exato e não justo
Preparados para o certo e cruel programa do destino

E que venha, vá, torne, retorne e nunca pare
Mas esteja sempre, nem que seja para inspirar
Porque um anjo se pode esquecer, mas não três
Que se fossem mais esperados, talvez não fossem

Fazem teu ventre ser mais feminino
Tornando-te mais mulher do que as comuns
Postura, atitude e comportamento fáceis
Na mais árdua tarefa entre duas mulheres numa só

Anjos que escudeiam os tristes açoites da distância
Pesados em sua descida, mas macios na subida
Ínterim suficiente para gozar de toda a lembrança
E fazê-las vácuo deste carrasco interior

Porque nada tolera o inexplicável, o injustificável
E a distância se torna algo inexistente, sem efeito
Quando o que pulsa tem frequência inatingível
E quando toda a explicação está somente dentro de nós

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Setembro 2006

sexta-feira, abril 28, 2006

SERÁ

Será que teus olhos mentiram para nós?
Que teus gestos e teu charme nos traíram
E que teu sorriso, tua presença e teu pulsar
Eram só ilusão de nossa paixão?

Será que tuas ações nos enganavam?
Assim como nossos beijos nunca tão apaixonados
Nossas noites de amor jamais tão sentidas
E nossos jantares nunca bem aproveitados?

Será que nossas conversas foram pro ralo?
Levando consigo nossa cumplicidade
Deixando o respeito avançar na tênue linha
Que separa um amor de uma amizade?

Será que nosso momento nunca existiu?
Que o medo do passado trouxe à tona o futuro
Projetado no belo presente não vivido
Esperando do tempo resposta aos sentimentos?

Será que ainda nos encontraremos?
Não num abraço repulsivo e obrigatório
Ou num descarrego beijo falso
Mas no lacrimoso olhar do coração que não esquece?

Luiz Eduardo Bimbatti
Milão/ MI - Itállia
Abril 2006

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

PAZ AO CORAÇÃO

Quero dar um pouco de paz ao meu coração
Mas é difícil fazê-lo com sua presença
Mesmo que não estejas cá, ele pode sentir-te
De um jeito ou de outro você ficou

Não existe tempo certo nem momento justo
Problemas existirão por toda vida, solitária ou não
E o belo de resolvê-los é dividí-los
Não usá-los como escusa para algo inexplicável

Teu silêncio não tem origem em não saber falar
Mas em não saber o que falar, o que pensar, o que sentir
Sendo mais fácil deixar-me traduzir tudo isso e apenas concordar
Enganando-se no pior dos desidérios humanos...

Pela minha condição não escolho o que sinto
Não posso criar nem destruir um sentimento
Restando-me tão-somente decidir o que lhe fazer, enquanto vive
Assim, faço dele um jogo de azar, apostando no vazio

E quando este sentimento vem, quase impossível
Outra opção senão protelá-lo mais e mais
E isso corrói todo meu equilíbrio
Dentro daquilo que sempre penso controlar

Preciso mesmo desta paz, preciso me afastar
Não ser mais vítima de qualquer palavra, voz, som
Menos ainda de um toque, abraço, beijo
De tua presença que tão bem me faz

A beleza abstrata do arco-íris depende
Da pureza real do Sol e da Chuva
Por mais que sejas assim bela, encantadora
Tudo se esvai sem uma origem verdadeira e tangível

Ainda que a munição de meu sorriso seja teu olhar
Por ora tu não serás mais o alvo da sua rajada
Porque a paz de meu coração depende da vitória nessa guerra
De cada batalha para evitar seus olhos, seu sorriso, seu ser...

Luiz Eduardo Bimbatti
Milão/MI - Itállia
Fevereiro 2006

quinta-feira, janeiro 05, 2006

IMAGINAÇÃO

Não estou acostumado a esperar o momento certo de dizer
De ter que saber quando e como olhar
Perder o controle das mãos, sem saber o que fazer com os gestos
Engolir a seco um suspiro, molhando os olhos por isso

Como peças de divertimento do destino
Num tabuleiro esburacado, cinzento e escorregadio
Vamos levando as inexplicáveis fases desta partida
Deste jogo que não gosto e desconheço suas regras

Ninguém pergunta, ninguém responde, os dois imaginam
Imagino o que pensas, porque te incomodarei se perguntar
Imagino o que sentes, pois te pressionarei domandando
Imagino o que pretendes, para não acelerar o processo natural

Mas o pensar, sentir, pretender são alvos inatingíveis à imaginação
E mesmo que a comunicação seja clara e até objetiva
Sempre restam dúvidas quanto à sua sinceridade, honestidade e atualidade
E a nova imaginação voa com o que restou da imaginação antiga

Todavia, teu satisfeito sorriso de rabo de boca, com os olhos fechados
No meio dum sono leve causado por um apaixonado e terno cafuné
Revelou-me que todas as respostas estão em mim, quando estou com você
Em cada milímetro de nosso ser, que jamais sairá de minha imaginação.

Luiz Eduardo Bimbatti
Milão/MI - Itália
Janeiro 2006

CORAÇÃO MUDO

Ninguém me ouviu, mas acordei o silêncio
O silêncio que portava em meu coração
Desde a última vez em que ele berrou
Se acabou em gritos até seu derradeiro rosnar

E assim ficou, mudo, calado, sem boca
Porque a cada palavra tentada, decepção
Em cada momento de abertura, retroação
Numa leve possibilidade de calor, geada

Agentes externos que não entravam
Neste impenetrável invólucro de emoções
Com sua metade que pulsa e a outra que engrena
Porque o portal está um pouco mais acima

Não entram na mente senão pela longevidade
Tampouco no peito senão pela proximidade
Tão longe quanto as palavras e as ações
Assim perto como um olhar e um gesto

Não preciso de boas e belas palavras de uma poetiza
Para entender e sentir o que tenho que saber
Porque ele estava somente mudo, não surdo
E o primeiro passo para a cura é escutar com atenção

Escuto, observo, toco, guardo
De forma a deixar-te iluminar minh'alma, curar esta mudez
Bebendo do teu olhar, sentindo teu sorriso, sugando teu abraço
Decorando cada dobra e cada pintinha de teu corpo azul

E como num átimo, conheço-te há anos
Pela afinidade eletiva que nos escolheu
E fez meu coração, rouco, suspirar, sussurrar, falar
Tagarelar, gritar com fôlego infinito para o céu que se abriu


Luiz Eduardo Bimbatti
Milão/MI - Itália
Dezembro 2005

quarta-feira, novembro 30, 2005

AMOR ETTICO

Bebo o mel enamorado de amor éttico
Dessa colméia amorfa que sou
Com mais favos do que posso suportar
Mas alimentados pela mais bela flor

Produzido pelo pólen de teus olhos
Com a paciência de teus gestos
E a delicadeza de tua pele
Que traduzem toda tua doçura

Não há palavras para dizer
Nem palavras convenientes
Para o sentimento que porto por ti
No profundo de meu coração

Encontramo-nos em sonhos
De olhos abertos ou fechados
Isso é o que menos importa
Quando quem enxerga não são os olhos

Percebo este mel pelos cinco sentidos
E mesmo que não tenha perdido qualquer deles
Todos se desenvolvem absurdamente
Como se houvesse perdido todos

Pelo gosto de tuas lembranças
Pelo aroma de tuas palavras
Pelo som de tua presença
Pelo mel enamorado deste amor éttico

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Dezembro 2005

sexta-feira, novembro 25, 2005

CHANCE

Mais uma folha caiu e doeu
No gélido e noturno Parco Solari
Enquanto o silêncio de tuas mensagens
Ecoa no vácuo de minha espera angustiante

Tenho certeza de que você está aqui dentro
Por quê, então, evita se manifestar e aquecer?
As mãos frias que esperam o cafuné
De cabelos quentes e nuca fervorosa

Nesse tempo mais relativo que as horas
Que voa quando imagino-te num futuro incerto
Pára quando teus olhos refletem tua esperança
E vagueia quando nossos lábios são apenas um

Meus projetos mudam pela força da tua maré mediterrânea
Na intensidade da tua milanesa Lua Cheia
Com abundantes ondas adriáticas sopradas
Que não ousarei interromper, jamais

Ondas que portam este ar que há tanto não me faltava
Renascente, mas ainda sem corrente
Sabendo dos fortes ventos súbitos
Mesmo que ignore as rajadas imprevisíveis

Desta vez isso não vai se esfumaçar
Tampouco deixar de ser pela simples fumaça
Porque com ou sem ela, há fogo
Uma linda chama que quero alimentar

E não transportarei ao meu amor
Os erros de minha paixão
Nem esperarei pela pontualidade de teu sentimento
Nas lágrimas canhotas de meu destro olhar

Escolho-te, pelo que posso receber de ti
Não pelo que você pode me oferecer
Pelo teu toque que ultrapassa a minha derme
E pela beleza troiana de tua existência

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Novembro 2005

MADURO

Pior mágoa é aquela culposa
Cujas lágrimas não têm um alvo
Para justificar o sentimento amargo
Nem a quem imputar o nó no coração

Basta restar ali, sozinho
Sentindo o cheiro da sombra
Regurgitando o vazio da confiança
No sólido amadurecimento inevitável

Luiz Eduardo Bimbatti
Genova/GE - Italia
Outubro 2005

segunda-feira, outubro 03, 2005

CHOQUE

Meu amor, meu anjo, meu choro
Por onde entrou e por onde escapa?
Se o sofrimento é inevitável
Por que antecipá-lo assim?

Não consigo exprimir-me completamente
E meias-palavras não te bastam
Voce fala mais que pensa
Pensa mais que sente...

Não tema o choque disso tudo
Nem aposte tudo na tua experiência
Ambos fazem reviver, despertar
Aquele, a luz; Esta, nem sempre

Mas o risco da vida é esse
Aproveitar a experiência do choque
Sem preservar o choque da experiência
Vivendo, sentindo, vivendo...

Agora, no escuro de um canto espero
Pronto para ajudar, afagar, apaixonar
Compartilhando choques com ninguém
Trocando experiências comigo mesmo

Ninguém vem por acaso
Todos vão por algum motivo
Mas não voce, sem caso, sem motivo...
E meu braço te espera, para o abraço esquecido

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Outubro 2005

quarta-feira, setembro 21, 2005

BAIXO

Sou uma fortaleza humana
Com minhas muralhas da razão
Portões de lenhos da desilusão
Guardiões da emoção minotáurica

Mas todos temos nossas brechas
Deixadas por descuido escuso
As vezes com algum propósito
Muitas voltas sem qualquer lógica

E numa dessas, vacilei
Uma força pequena, baixinha, mas intensa
Desenfreada e sem rumo, vem
Olvidando o tempo, que nos é limitado

Finca seus olhos no meu não
Chumba seus beijos em meus devaneios
Crava seu sorriso em meu silêncio
Bombardeia o sentido de minhas palavras

Presença ainda indefinida
De algo que não pode ser
Não posso, não devo, não quero
Mas já esta sendo...

Conseguindo espaço no completo
Liberando sensações do vácuo
Violinando o já belo pianoforte
Cujo tremor do som desmorona-me

Mas nada me resta fazer
Uma massa, um vinho, Oscar Peterson e você
Se tudo ruir, construo novamente
Sempre começando por baixo, baixinho...

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Setembro 2005

segunda-feira, agosto 08, 2005

PERSONAGEM

A aurora de teu olhar
Contrasta com o crepúsculo de teus atos
N'alba dos teus pensamentos
Escondidos no tramonto de teu beijo

No auge de meu Gregor de Kafka
Sou pisoteado pela realidade que não me pertence
Lutando para aparecer e não ser descoberto
Restando somente ao destino de teus holofotes

Minha parcela Mersault de Camus
Que não me permite a entrega humana
E, num labirinto de raciocínios, prende-me
Deixa tua mão como único guia à saida

Nem mesmo meu lado Raskolnikov de Dostoievski
Consegue esconder mais este crime
Disfarçar os previsiveis atos humanos
Regidos passado, presente e futuro pela emoção

Mas minha parte Cosimo de Calvino
Mantém-me sobre todas as árvores
Em meu determinado mundo particular
Que compartilho somente com quem me faz bem

Amo o carinho dos teus olhos
Apaixono-me pelo afago de teu sorriso
Adoro o cafuné de teu sotaque
E a cumplicidade de teus gestos

Personagem num caminho velho sob ruínas, colunas
Filosofia barata, escada, clero e cerveja
Redescobrindo sensações perdidas numa noite qualquer
Raposas de haxixe esperando o dia, um dia...

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Agosto 2005

terça-feira, julho 19, 2005

DESAMOR

O amor é troca constante, sem inquirição
Presença na ausência, sem permissão
Independe do toque, do olhar
Mas tão somente da alma entregue

Não preciso da sua saudade por compaixão
De egocêntricas lágrimas de um amor reflexivo
Do seu telefonema por conveniência
Numa data mais vazia que o nada

O que para você não tem consequências
Pode ser a tampa do caixão de meu amor
E temendo que as decepções sobrevivam a ele
Deixo a mágoa escorrer pelas minhas mãos, ir embora

Não consigo convergir razão e paixão
"Choro em silêncio a dor
Sofro, mas nem a Lua tem pena de mim"*
Estou tão longe que ninguem se importa

Meu consolo é ter tanto amor
Que poderia amar o mundo todo
Mas, egoísta que fui, dediquei-o todo a você
E agora aguento o pesar de mais este desamor

*Zeca Baleiro (Serenata Sem Estrelas)

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Junho 2005

quinta-feira, junho 02, 2005

PENSAMENTO

Não consigo desviar meu pensamento
Deito-me e levanto-me assim
Tão longe, tão perto, em silêncio
E tua presença constante me irradia

Teus olhos me perseguem em saudade
Esta que só nós sabemos sentir
A mesma que te faz reter
As lágrimas que eu nunca chorei

É uma perda de tempo, de vida
Quero uma lareira em Visconde de Mauá
Uma cama, um filme, uma bebida
E ter fome só às três da madrugada

É uma oportunidade única
Quero conquistar-te a Scandinávia
Uma praia, sol, neve, som
Frio, calor, amor, para e com você

Tenho racionalidade suficiente
Para sustentar meu egoísmo
Jamais egocêntrico em si
De querer você aqui

Enquanto espero, sozinho
Tão longe, tão perto, em silêncio
Sinto-te sempre mais dentro
E não consigo desviar meu pensamento

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Junho 2005

SONO

Fecho os olhos tensos obrigado
Mas o sono não vem
As molas tomam a forma de meu corpo
E continua a sonar a melodia

"Salve, Zero Quatro, Salve"*
O que afinal me mantém aceso
Angústia, amor, paura, paz
Forse dieci gelati, magari un master

Uma rotina inversa, não certa
Consigo programar só o que não farei
Num destino esfumaçado e translúcido
"Mas o alvo na certa não te espera"**

Não existe liberdade alguma
Sou prisioneiro de meus sonhos, amores
Objetivos, cultura, vida, morte
"Oh Lord, forgive me this helluva road"***

Mesmo assim sou ator principal
Não coadjuvante de minha própria história
Se ele não quer vir, que assim seja
"Rios, pontes e overdrives..." ****

Em azul pela palma de minhas mãos
Entra toda a força serena do universo
"Ua mau ke ea o ka'aina i ka pono o hawai'i"*****
E tranquilo, sem notar, o sono vem

* Mundo Livre S/A (Free Wolrd S.A.)
** Paulinho Moska (A Seta e o Alvo)
*** King Bird (Old Jack)
**** Chico Science (Rios, Pontes e Overdrives)
***** Israel Kamakawio'ole (Hawai'i '78)

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Junho 2005

sábado, maio 14, 2005

OVER THE RAINBOW

Busquei-o em todos os lugares óbvios
Dentro, fora, acima, abaixo, dos lados
Sempre em vão, sem sucesso, sem frutos
Ele jamais está aonde é procurado

Sempre o busquei em outros, mas estava em mim
Guardado sabe-se lá porque e até quando
Aguardando a provocação impossível
Sem saber que só o impossível é impossível

Um sofá no carnaval de Louis Armstrong
Despretensioso, inesperado e, assim, incauto
Um trompete que calava qualquer tamborim
Paz, Lua, ar, silêncio, musica...

O amor estava no eco de um beijo
Nos olhos amendoados de Nefertari
Nos quentes pés para fora do cobertor
No cinema sem namoro, no passeio na farmácia

Uma mulher que emana o perfume da vida
Egípcia em beleza, grega em inteligência
Romana em batalha, brasileira em paixão
Comprova isso como um anjo

Traz consigo o guindaste de minhas emoções
Ilumina as cavernosas esferas de meus pensamentos
Refaz a acústica do anfiteatro de meu coração
Significa o significado de minhas significâncias

Tempo e distância não fazem mais sentido
As flores de Baudelaire murcharam
São os risos, as palavras e a voz que saciam
Mas nem Wylde ou Kamakawio'ole vencem a saudade

Amor, paixão e respeito não bastam mais
Preciso de saudade, de querer, de ser
E isso só existe num unico lugar
Somewhere over the rainbow, in a wonderful world...

Luiz Eduardo Bimbatti
Milao/MI - Italia
Maio 2005

segunda-feira, março 28, 2005

ESPERA

A ausência em seu peito é só saudade...
Presença do que está lá e cá ao mesmo tempo
Mas presença, constante presença

O grito em sua música é a canção dos anjos
A voz calada clama seu nome à flor da pele
Por gestos, olhares, ações, não-ações

A esperança, fênix sem asas, fica estática,
Aspirando o crescer de suas asas,
Aguardando a indicação de direção e sentido exatos
Ansiando o soprar do melhor vento...

...esperando você chegar.

Luiz Eduardo Bimbatti
Sao Paulo/SP - Brasil
Março 2005

sábado, março 19, 2005

GUIA

Quisera eu enxergar só em preto e branco
Para jamais me deixar confundir
Pelo arco-íris caleidoscópico de meus dias,
Sendo guiado tão-somente pela luz da intensa aurora boreau
Que emana deste olhar transparente e certeiro.

Luiz Eduardo Bimbatti
Sao Paulo/SP - Brasil
Março 2005

quinta-feira, março 03, 2005

INCONTROLÁVEL

Maravilhosos imãs negros
Que tanto me atormentam e me prendem
Transformam qualquer momento em volúpia única
Usurpando toda a mansuetude da consciência

Parestesia de minh’alma
Transparência da negritude cândida da tua
Cúmplices de ira, mas não de afeição
Carrascos desmedidos de lisura e compaixão

Brisa em meus problemas mundanos
Vodka no meu peito erroneamente lanceado
Cataclismo em meus pensamentos metamórficos
Atrevidos, inoportunos, ditadores, mas muito queridos

São a paz do universo de sua abrangência
O par mais belo e perfeito de sinceridade ingênua
Solução de todas as enfermidades invisíveis
Fontes de azuis lágrimas enamoradas

Teus olhos são tudo...

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Fevereiro de 2005

ROSA

Quero chorar, mas estou proibido
Sufocado por um amor racional
Estrangulado por uma paixão súbita
Inesperada, inexplicável, curiosa...

Estou só e ninguém pode me ajudar
O choro vem de dentro e por dentro deve ser curado
Por um instante não me reconheço mais
Nem mesmo os amigos, parentes e Deus me reconhecem

O amor é uma rosa da qual os espinhos são as paixões
Não se pode separar afago e dor, pétala e caule, sem sofrimento
Além de ser inútil regar uma flor emocional com água racional
Os céus jamais adubarão algo assim...

Pergunto, mas não obtenho respostas
Talvez não haja qualquer ser ouvindo minha súplicas
Ora sou alma, ora corpo, ora tudo, ora nada, ora ... não sei...
Se soubesse, teria controle sobre mim e sobre a rosa

Mas estou destinado a colher essa rosa sem luvas
Sangrar até a última gota de minha cumplicidade
Esgotar o respeito, carinho e dedicação que me sobram
Até a primeira e última lágrima da individualidade que me resta...

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Janeiro de 2005

terça-feira, novembro 09, 2004

PRISÃO

É egoísta a prisão solitária do amor
Na medida de sua ignorância
Na proporção de suas posses
Com a anuência de sua ambição

É cruel a prisão solitária do amor
Que impede o choro de outra paixão
Amorna o coração, ofusca o novo
Acomoda o peito e repete o lindo

É triste a prisão solitária do amor
Enquanto poda o próximo do próximo
Intercede quando beija a maçã pedinte
Desvia o ingênuo e evita o olhar fresco

É ingrata a prisão solitária do amor
Por não retribuir o sofrimento
Compensar o sacrifício com dor
E premiar seus próprios louros

É natural a prisão solitária do amor
Diminui os braços e abraços do mundo
Devasta qualquer sussurro na paisagem
Seca os lábios da maré e esmaga o dedo de Deus

É inevitável a prisão solitária do amor
Pois age sobre indefesos humanos tolos
Por ter seu início em uma paixão
E por ter seu fim encarcerada em si


Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Outubro de 2004

ENCONTRO

Linda e reluzente, você estava lá

Então percorri longos caminhos a encontrar-te
Na estrada tortuosa, você estava lá

Encontrei-te e fui de encontro ao teu abraço
No peito pulsante, você não estava lá

Toquei em suas mãos, delicadas e frias
Na troca de calor, você não estava lá

Mirei em seus olhos, profundamente rasos
Na firmeza do olhar, você não estava lá

Beijei seus lábios macios em despedida
Na lascívia vontade, você não estava lá

Então percorri caminhos ainda mais longos a separar-me de ti
Logo na despedida esquina, você estava lá

E eu também; mas deveria estar aqui.

Luiz Eduardo Bimbatti
Pouso Alegre/MG - Brasil
Dezembro 2001

DAR

Posso dar meu beijo
Com o frescor de todas as gotas do mar
Posso dar meu abraço
Com o conforto do canto das musas
Posso dar minhas mãos
Pelo afago da brisa de todas as manhãs
Posso dar meu olhar
Na paz do fim do mundo
Posso dar minha paixão
Com o fogo ardente do magma latente
Posso dar meu amor
Na força vital de todas as almas
Mas não posso dar meu ser
Pois é impossível receber aquilo que já se tem

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Março 2003

DROGA

A paixão é droga hospedeira da alma
O fumo da paixão esvai-se no beijo
E o trago do beijo esfumaça a alma
A fumaça da alma se entrega pelo rubro olhar
Olhar que, confesso e incauto, revela a paixão
Por isso beijo de olhos fechados
Para não me envergonhar do vício do qual sou dependente
Pelo qual estou condenado

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Outubro 2003

CICLO VITAL

Morte sem conformismo é espetáculo
Espetáculo sem holofotes é talento
Talento sem oportunidade é amadorismo
Amadorismo sem platéia é amor
Amor sem correspondência é vida
Vida sem sofrimento é morte

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Outubro 2003

INGÊNUO

Quero voltar a ser ingênuo
Poder crer que um pássaro é um pássaro
Que um moinho é um moinho
Que um ser humano é um ser humano

Tudo foi deturpado pelos supostos pensantes
Que numa infinda busca por rotulações
Acabaram por definhar sua desperdiçada espécie
Cavando a cova de seus próprios desejos

Esquecem que ao subjugar semelhantes, subjugam-se
Fazendo com que as maledicências sejam para si
Numa auto-flagelação espontânea e voluntária
Que os coloca num amorfo círculo vicioso

Representando o almejo de serem o que não precisam
Procurando meios de concretizar o nítido abstrato
Através das realizações espetaculares de suas emoções
Profetizam o fim do inacabado, mal iniciado

E abusam daqueles que deveriam lecionar-lhes
Pela esperteza ignóbil de suas ambições
Condizentes com a natureza póstuma de suas almas
Criadas na ingenuidade, maturadas na humanidade

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Março 2003

CHAMA

Sei que não respondo pelo meu peito
E que minha boca atende seus anseios
Minhas mãos impulsionam seus desejos
Mas que isso não passa de paixão

Vontade de estar, mas não querer
A todo tempo lembrar, mas não depender
Entrar neste labirinto e não se perder
Pois a paixão é assim: um não ser

Em sua certeza incerta fico seguro
Pois está ela também seguramente perdida
E a chama que em meu peito brota
Pode extinguir-se com um simples sopro de ar

Deste sopro posso fazer uma brisa ou uma ventania
Uma vez que do ar o fogo se faz e por ele se acaba
Cabe a mim perceber a força deste poder natural
Pois tão logo a percebo, domino-a

Dominando-a, posso controlá-la para o que pretender: brisa ou ventania
No caso de provocar ventania, de per si o fogo acabará
Pela desproporção natural de elementos e presença sufocante de ar
Que nem mesmo a mais intensa e furiosa das chamas resiste

Contudo, ao optar pela utilização exata e sensata do condutor
Guiando esta força como brisa suficiente para manter a chama
Fazendo com que jamais se apague e alimente o que chamo paixão
Conseguirei alcançar e desfrutar assim o que chamo amor.

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Abril 2003

CERTEZA

O amor é uma das coisas das quais dificilmente se tem certeza
E a certeza é a única coisa da qual não se pode ter certeza
Uma busca incessante e inútil pela razão
Remete-me aos arquivos intransponíveis da emoção

E este eterno paradoxo é o que tudo gera e tudo destrói
Mas se buscarmos a certeza dentro da sensatez instintiva
Perceber-se-á que ela está no ponto mais intangível por humanos
No exato ponto de equilíbrio entre o pensar e o agir

Não se pode ter certeza sem antes pensar
Não se pode ter certeza sem antes tentar
Não se pode ter certeza sem antes amar.

Luiz Eduardo Bimbatti
Pouso Alegre/MG - Brasil
Novembro 2002

IGUALDADE

Muito me dizem, muito me digo, mas nada serve
Procuro e encontro argumentos para me convencer
De que sei o que sou, o que sinto e o que quero
Dizem-me o contrário; por vezes não...

Mas a grande verdade é que quem me diz é igual a mim
Somente crê ser o que é e sentir o que sente
Nada pode ser comprovado neste mundo espetaculoso
Assim, vive-se numa eterna fantasia real

E enquanto essa batalha entre sentir e pensar perdurar
Esta indefinição existencial permanecerá
E continuarei a não acreditar em alguém que é maravilhosamente igual a mim.

Luiz Eduardo Bimbatti
Pouso Alegre/MG - Brasil
Outubro 2002

TRAIÇÃO

Traio-te não porque estou com outra
Tampouco porque não te amo como antes
Mas porque uso tudo que aprendi contigo
Para construir algo longe de ti

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Fevereiro 2002

HORA CERTA

Ser a pessoa certa na hora errada
Nada mais escravista
Que arrasta a alma pela lama
Até o último dos dias terrenos

Perturba e confunde o filtro dos sonhos
Sem que outra luz possa se manifestar
Atormenta a inevitável rotina
Impedindo a glorificação de outro Sol

Numa incessante e inútil espera
Pelo momento adequado, pela hora certa
Hora esta, que jamais chegará
Pois já passou; e a pessoa certa ficou

Ficou no passado, apenas na lembrança
Na boa lembrança de um dia ter aparecido na hora errada

Luiz Eduardo Bimbatti
Pouso Alegre/MG - Brasil
Janeiro 2002

segunda-feira, novembro 08, 2004

INTELIGÊNCIA E CONHECIMENTO ALHEIOS

Todos, todos sem exceção, em todos os campos, em todos, em todos, não passamos das primeiras letras. Gostamos de nos regalarmos com a inteligência alheia! Da papinha já feita!” Este trecho de um diálogo entre os personagens Razumíkhin e Pulkhiéria Alieksándrovna, talvez seja a parte mais relevante da admirável obra “Crime e Castigo”, de Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski.

Apesar de não guardar qualquer nexo com o enredo da obra, traz uma antiga, mas sempre atual crítica ao desuso da principal faculdade humana que nos diferencia dos demais seres: o ato de pensar.

É comum, mormente pelos anseios do modelo social capitalista, a confusão entre inteligência e excesso de conhecimento, não sendo rara a preferência deste àquela. Um homem que apenas detém um grande conhecimento é tido como sábio, enquanto outro que faz pleno uso do raciocínio e da inteligência, embora não disponha de muito conhecimento teórico, não recebe os mesmos louros.

Essa distorção axiológica encontra raízes na educação primária do ser humano, no padrão educacional adotado nos últimos séculos, o qual vangloria a repetição sistemática do conhecimento oriundo da inteligência desenvolvida por grandes pensadores, preexistente e formada de acordo com o momento histórico e sócio-cultural de sua aurora, como se fosse impossível admitir outra forma de inteligência, moderna, atual e com embasamento na vida hodierna.

Desde a infância o homem é treinado para não pensar, mas apenas absorver conceitos e raciocínios pré-formulados e pré-moldados a defender proveitos de poucos em detrimento de muitos, em verdade, da quase totalidade dos demais.

Cada época tem seus formadores de opinião, seus controladores sociais, sendo que a moderna é regida pelas forças capitalistas representadas pelas empresas transnacionais, pela influência da cultura norte-americana e pelas incontáveis religiões oriundas das inúmeras distorções ao cristianismo. Portanto, verifica-se que não se encontra atualmente, de fato, decentes formadores de opinião.

É nítido que o desenvolvimento intelectual não é o principal foco educacional nas escolas modernas por confrontar diretamente com os interesses das grandes empresas transnacionais e de todo o sistema de consumo de capital. A conclusão lógica forma-se pela idéia de que, se todos os entes sociais pensarem e refletirem sobre suas aspirações e desejos, inverter-se-iam suas escalas valorativas e seus objetivos vitais e, por conseqüência, tais entes passariam a consumir somente o necessário e, excepcionalmente, o supérfluo.

O resultado disso é um sistema de educação retrógrado e ineficiente, que não exige do estudante outra coisa além de decorar perguntas e respostas durante onze anos – se considerarmos os ensinos fundamental e médio - com o único objetivo de prestar um concurso vestibular igualmente retrógrado e ineficiente para, finalmente, numa universidade, ter acesso ao mínimo necessário para começar a desenvolver alguma forma de pensamento.

Rubem Alves, nobre educador brasileiro, acertadamente defende que “não há nada mais fatal para o pensamento do que ensinar as respostas certas”.

Com a ilimitada heterogenia social, a única forma de reverter este quadro é trabalhando o indivíduo em benefício da sociedade, e não o contrário.

O indivíduo deve, portanto, retorquir qualquer forma de imposição de pensamento ou de conhecimento pré-adquirido, buscando as raízes de seu fundamento, entendendo e assimilando seus argumentos para, somente após este processo crítico, agregá-lo ou refutá-lo.

Ler todas as grandes obras de autores consagrados, conhecer as teorias dos maiores gênios, pesquisar todas as culturas do planeta e saber recitar os mais belos poemas da humanidade em diversos idiomas, from title page to colophon, de nada serve sem a reflexão sincera e individual sobre o conhecimento que está sendo congregado.

Com o fácil acesso à informação, ressalvado o concedido pela rede mundial de computadores, qualquer pessoa pode se tornar um tecnopapagaio da modernidade e proferir aos ventos todo o conhecimento do mundo. Mas isso não trará qualquer crédito ao seu intelecto e à sua experiência se a informação adquirida não for processada e firmada numa convicção única, pessoal e devidamente alicerçada em argumentos válidos.

Somente o firmamento dessa convicção pode desenvolver no indivíduo uma personalidade sólida e irrefutável, de maneira a fazê-lo progredir enquanto ser humano e, conseqüentemente, evolver toda a humanidade.
Pensem nisso. Mas pensem mesmo!
Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Novembro 2004